Morreu um amigo, morreu Albertino Almeida

Hoje, desprevenido, fui apanhado pela notícia e logo revivi o dia em que, na companhia do meu camarada Manuel Vidigal, fomos recebidos em sua casa. Era a primeira vez que nos encontrávamos para conversar e ficamos tocados, para lá da afável simpatia, com a consideração que deu ao encontro. Feitas as apresentações, o Dr. Albertino brindou-nos com uma resenha cronológica e rigorosamente preparada do seu passado por África, em particular por Angola e Moçambique, mostrou-nos alguns documentos, contou-nos estórias e momentos por que passou e disse-nos não ter na sua posse as várias cartas que trocou com Nito Alves, cartas essas que emprestou a um amigo que se “esqueceu” de as devolver. Foi uma tarde inesquecível, que se repetiu e que nos deixou a certeza de termos sido recebidos por um Senhor, com grande coragem e de uma integridade elevada, um camarada, um amigo.
Do que sobrou da sua estreita relação com Nito Alves, ofereceu-nos a dedicatória que este escreveu na primeira página do seu livro de poemas – Memória da Longa Resistência – e que ofereceu ao seu editor
Transcrição:
Ao meu camarada, amigo e verdadeiro irmão comunista Albertino Almeida
Este livro, – acredite – é apenas uma síntese poética que consubstancia o heroísmo de um Povo ciente da sua missão histórica no mundo; síntese que consubstancia os esforços igualmente heroicos de todos quantos ajudaram a nossa luta e a nossa revolução; é uma homenagem a todos os heróis desta grande Angola, conhecidos uns e anónimos outros.
Os revolucionários – modestos – não sabem faltar à verdade: Albertino Almeida, que sempre considerei um combatente sincero e audaz da nossa luta anti-colonial e da nossa revolução anti-capitalista e anti-imperialista pertence à honrosa lista dos heróis a quem a minha poesia homenageia.
Nito Alves
Foi este homem, de quem Nito Alves se tornou íntimo e a quem recorreu, pela experiência e sabedoria, nos períodos mais exaltados, quer como governante, Ministro da Administração Interna, quer como dirigente político, membro do Comité Central do MPLA. Todas as cartas trocadas obtiveram resposta e, conta-nos com mágoa Albertino; foi nessas opiniões que sempre o alertei para as ciladas. Hoje, as mais de 20 cartas trocadas, andam perdidas, como atrás disse. Como seria interessante, quando não fantástico, surpreendermo-nos, decerto, com as inquietações partilhadas, já lá vão quase cinquenta anos.

Albertino Almeida nasceu em Marialva, Portugal, em 1936.
Em 1973 ocupava o cargo de Delegado do Procurador da República em Angola e foi nessa função que interveio na libertação condicional de alguns presos políticos angolanos a cumprir pesadas de penas no Tarrafal (entre outros, Luandino Vieira e António Jacinto).
Foi um dos fundadores do Movimento Democrático de Angola; fez parte da Comissão de Inquérito ao Campo de São Nicolau; foi Assessor Jurídico de Agostinho Neto nas Conversações de Argel, nas do Alvor e, depois, Director do Gabinete Jurídico do Primeiro-Ministro do Governo de Transição de Angola, Lopo do Nascimento.
Nomeado por Melo Antunes Embaixador do Quadro Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, foi colocado em Moçambique como o seu primeiro Embaixador, na data da independência, de onde é mais tarde retirado por Mário Soares.
Foi também director editorial da “África Editora” onde, entre outras iniciativas, promoveu a criação da revista “África” (de Manuel Ferreira). É coautor do livro “Massacres em Luanda”. A Associação 27 de Maio lamenta a sua morte, presta uma sentida Homenagem a este grande Amigo e apresenta sentidas condolências à sua Família e aos seus Amigos.
ASSOCIAÇÃO 27 DE MAIO
O Presidente
José Reis
4 de Março de 2025

José Reis
Os heróis não morrem…
Porque traspassam o futuro por mais longíquo que se o tempo
Obrigado por esta sentida homenagem.
O meu Pai fica na história da luta pela construção duma Angola livre.
Simão Almeida