Maria Laura Ferreira Lourenço – Mi – 1953-2024
Faleceu no dia 15 de Agosto a nossa associada MI, aos 71 anos, devido a doença prolongada. O seu funeral ocorreu no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, no passado dia 18 de Agosto de 2024. A MI nasceu em Lisboa a 14 de Fevereiro de 1953, foi casada com o médico António Luz, Tony. Deixa duas filhas e um filho. A MI era médica pediatra.
Em Angola, nos idos anos de 1974/ 75, a MI foi uma voz activa progressista, no movimento estudantil na universidade de Luanda. Pautou sempre a sua actividade associativa dentro do MPLA e pela concretização da independência de Angola sobre a sua liderança. Licenciou-se em medicina em 1976 na faculdade de medicina de Luanda. Como estudante, e depois como médica, prestou cuidados de saúde a inúmeros angolanos até 1977. Fazia parte dos grupos de acção do MPLA, na faculdade de medicina, não se furtando em ajudar a sua amiga e colega Sita Valles, no momento mais difícil da sua vida, quando se procurava resguardar dos seus assassinos.
A MI aguardava decisão sobre o seu pedido de nacionalidade angolana quando se deram os acontecimentos de 27 de Maio de 1977. Foi detida e deu entrada na cadeia de São Paulo a 31 de Maio de 1977. Ali esteve presa, na ala feminina, até ao dia 24 de Junho de 1977, momento em que foi expulsa de Angola para Portugal. A sua expulsão fez parte de um processo iniciado em Fevereiro de 1976, por Lúcio Lara e seus apaniguados, que visou afastar do MPLA os elementos de tendência ideológica comunista. Com ela, foram igualmente expulsos muitos médicos e quadros universitários que aguardavam a resolução para o seu pedido de nacionalidade pois, tinham vivido a maior parte das suas vidas em Angola e estavam identificados com a Independência Nacional e por ela tinham dado a sua contribuição sempre ao lado do MPLA.
Esta expulsão, mesmo que a contragosto, libertou-a a ela e aos que a acompanharam da clausura, quiçá mesmo da morte, nos dias sombrios que se seguiram. Angola perdeu para sempre um conjunto apreciável de médicos e outros quadros que se viram forçados a partir e mudar completamente o rumo das suas vidas.
A MI, já em Portugal, participou no concurso para a entrada na especialidade em pediatra e é recordada por muitos colegas e outros profissionais de inúmeros hospitais portugueses , por onde passou, como uma pessoa excelente, grande profissional, simpática, sorridente, disponível para ajudar quem precisasse.
Desde os anos 90 deu o seu contributo às iniciativas associativas levadas a cabo em Portugal, pelos sobreviventes do processo 27 de Maio de 1977 de Angola na constituição da Associação 27 de Maio, da qual foi associada desde a assembleia constituinte. Deu assim o seu contributo à luta travada pela associação para encontrar os desaparecidos forçados de 1977/1978 e pela clarificação desse processo obscuro através da criação de uma comissão de verdade, o que não veio a acontecer até ao momento por falta de vontade política do MPLA em enfrentar o seu passado.
Não serás nunca esquecida querida camarada, até sempre MI!
ASSOCIAÇÃO 27 DE MAIO
José Fuso
Lisboa, 20 de Agosto de 2024
José Fuso