… A caravana passa
Ler o Jornal de Angola é um hábito que não cultivo. Fiquei com esta repulsa desde os tempos em que as suas páginas destilavam ódio, prestimosa ajuda para atiçar o uso da violência, da tortura e da morte como o foi no pós 27 de Maio de 1977. Por estas e por outras, jamais lhe prestei a atenção. Aconteceu porém ter sido desinquietado, via e-mail, para ler o que agora lá se dizia a propósito do livro “A Purga em Angola”. Bastou-me ler o título, para de imediato pensar: o N’Dunduma voltou. Fantasia, desta vez ele não está lá, porém deixou escola, senão que jornalismo sério difundiria um escrito tão reles?
Não me surpreendeu portanto deparar nas páginas do Jornal de Angola do passado dia 3 de Fevereiro com o desvaire de Artur Queiroz, qual mandatado porta-voz, a esvair-se em insultos à historiadora portuguesa e co-autora do livro “A Purga em Angola”, e não só mas também àqueles que expiaram nas cadeias de Agostinho Neto, à ordem da DISA e de sei lá quem mais.
Não me cabe fazer a defesa da autora mas não posso deixar de comentar tamanha alarvice. Descubro um Artur Queiroz, que sem perder tempo apelidou o 27 de Maio de “revolta dos racistas”, a não revelar o porquê de tal epíteto, lançando levianamente achas para uma fogueira que pensei já estar extinta. Mantém‑se um tenaz reprovador do chamado golpe mas parou no tempo, é adverso à indagação dos factos e vá-se lá saber porquê posta-se no lugar de um estranho prosélito da barbárie que se seguiu.
Teima, na sua exaltada rábula, em reavivar a cabala propagandística engendrada na altura, da qual Hélder Neto soçobrou vítima dos “fraccionistas”, e, no meio de tanta agitação esquece-se de falar verdade. É sobejamente sabido que o então chefe da prisão de S. Paulo pôs termo à vida enquanto a sua cadeia era tomado pelos revoltosos, na manhã de 27. Admoesta Justino Pinto de Andrade, por este se ter deixado citar, por Dalila Mateus, no “abominado” livro mas não o desdisse quando faz tempo Pinto de Andrade, entrevistado por um jornal Angolano, assim respondeu à questão:
Comenta-se que Hélder Neto se suicidou…
– Não tenhas dúvidas. O Hélder Neto suicidou-se. Podem dizer a todo o mundo que foram os “nitistas” que o mataram, mas a mim não.
E segue a entrevista esclarecendo o porquê da sua convicção. (Jornal “O Independente”, ano 3, nº137 de 25 de Maio de 2002.)
De Kiluanji, só leu o livro em que este rende homenagem aos vencedores. Acontece que depois o velho comandante da guerrilha da Iª Região parou para pensar, indignou-se e acabou por dizer que “não se deixou seguir como um bando de pássaros voando por instinto”. Fez aquilo que Artur Queiroz não chegou a fazer. Escutou sobreviventes, aquilatou factos, percebeu a trama, e dando o dito por não dito escreveu “Miséria Moral”, aonde culpa o MPLA de ter feito uma chacina, denuncia os crimes e põe nomes aos criminosos.
Sobre o número de desaparecidos subsequentes ao 27 de Maio, quer-nos fazer crer o Sr. Queiroz que tal foi de pouca monta. Assim diz-nos que dos milhares de militantes, que não se sujeitaram à rectificação, só os mais lúcidos voltaram para o seio do partido passado o equívoco, qualificando assim a anterior opção política do MPLA, e afinal o cerne do 27 de Maio. Dos outros milhares, afirma terem saído do país. Mas será que se ausentaram ou estão lá, em solo angolano, a abarrotar as valas comuns que sobrevieram à repressão desenfreada?
Ressabiado ficou Artur Queiroz por não figurar com o seu presumido douto saber no rol dos consultados. O seu nome, pelos vistos, não aduz credível fonte de informação. Não deram importância aos seus rabiscos, acharam-nos demasiado implicados, e vai daí optaram os autores do livro por auscultar “pobres diabos” o que o deixou a espernear. Mas como é comum dizer-se; “os cães ladram e a caravana passa!”
José Reis
Fevereiro 2008
Sinceramente acho q já é tempo de tratArem do site. afinal o q é q vos aconteceu? foram alvo de sabotagem?
Os cães ladram a caravana segue, frente é caminho, o diábo que lhes carregue. Estes insultos ainda hão de continuar mas, a verdade triunfará. Cada um dos autores desta chacina será obrigado a engolir os vários garrafões de sangue daqueles que inocentemente foram afastados do convívio dos seus pais, mulheres, filhos e amigos.