A Paciência de Pepetela
Quando ontem ao fim da tarde, abri um mail proveniente de Angola que recebera de um amigo também sobrevivente, lendo de um fôlego o anexo que este me enviara, por momentos pensei que finalmente tinha à minha frente um testemunho com a grandeza de um Prémio Camões. O título não parecia enganar: “Pepetela farto do silêncio do MPLA” .
Depois de lê-lo e relê-lo, acabei por me comover finalmente, ao imaginar o sofrimento de Pepetela com todo esse silêncio de 30 anos do MPLA. Afinal, ele apenas ajudara a “seleccionar depoimentos elucidativos” para serem transmitidos pelos democráticos “órgãos de informação” controlados pelo MPLA em 1977. Como poderia então agora, revelar o mínimo arrependimento pela sua conduta na altura, quando aqueles depoimentos que ajudara a seleccionar, foram todos espontâneos e obtidos sem qualquer tortura ou intimidação moral ou física. Não, ele com a sua experiência de velho guerrilheiro no MPLA de nada suspeitara. Afinal, do que acontecia nos gabinetes ao lado de onde vinham as gravações, nem sequer lhe chegara um som longínquo. Não tinha culpa de o porem a trabalhar no Ministério da Defesa onde estavam todos aqueles senhores que nem conhecia.
As pessoas que de “viva voz” falaram perante ele e dos seus colegas de comissão, não aparentavam o mínimo sinal de maus-tratos e muito menos de torturas prévias, ou de qualquer outra espécie de coacção sofrida. Nada naquele cenário tinha sido montado ao “bom estilo maoista da revolução cultural chinesa”, que lhe pudesse ter despertado a menor das suspeitas. Seriam também, os integrantes da referida comissão a que Pepetela confessa agora ter pertencido (“mais de uma dezena de pessoas”), pessoas sensatas, honestas e que serviam desinteressadamente como ele o MPLA? Isso ficamos sem saber, mas certamente que sim, pois senão a dúvida ter-se-ia logo apoderado dele.
Pepetela, poderá então dormir tranquilo, já que afinal nada fez que o comprometesse com a repressão ao chamado ”Golpe de Estado de 1977 em Angola”, e portanto nada haverá que lhe possa tirar o sono ainda hoje.
Estranhei contudo que demorasse 30 anos a perder definitivamente a paciência e a confiança no MPLA. Não li ainda “Predadores”, o seu último livro, mas confesso que gostei de muitos dos que li, em que as suas histórias e personagens nos têm sido apresentadas, se calhar apenas na medida da sua falta de paciência em cada momento. Das histórias que li, deu também para perceber que ao serem baseadas em factos da vida do MPLA e de Angola, os que conhecem a terra e as elites Angolanas sabem que sem eles “Pepetela” não existiria. Pode ser que com paciência ainda vejamos no prelo o seu último livro “PEPETELA CONTA TUDO” .
José Fuso
Sobrevivente do 27 de Maio de 1977
Pessoalmente e com muita pena minha também vou perdendo a paciência.José Fuso e José Reis,que tanto acusam Pepetela e outros por não falarem, quando será que vocês o farão?Então os nomes de quem vos torturou?Os nomes dos colegas de faculdade que assistiam e participaram nos interrogatórios?E os nomes de alguns dos carrascos que até conheciam pessoalmente?Vá deixem de exijir dos outros o que os senhores não querem fazer.FALEM.
Como não pertenço ao grupo dos que interrogaram, espancaram e mataram a bel-prazer, e fazendo parte de uma associação alheia ao revanchismo, mas que pugna, conforme Artigo 3º dos seus Estatutos, em contribuir para a investigação, esclarecimento e divulgação dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, sinto que não devo FALAR sob coação, mas que o devo fazer sempre, onde, como e quando o entender, por forma a levar por diante esta tarefa a que me propus no âmbito da Associação 27 de Maio, sem perder Norte e tão-pouco a paciência.
A memória de todos os que desapareceram, deve ser respeitada.
José Reis
As minhas desculpas por comentar um comentário,mas assim não vamos a lado nenhum,sabe porquê?(Eles argumentam de forma idêntica).Acredito na bondade da intenção, mas o resultado passados tantos anos é pouco mais que zero.
Meu caro compatriota NANDO,
Permite-me que te trate assim, já que mostras tanto interesse na verdade dos factos ácerca dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977.
E penso que fazes bem, e nesse sentido venho incentivar-te para que igualmente contribuas para isso.
Não tenho dúvidas, e certamente concordarás comigo, que para muitos angolanos, para muitas pessoas (infelizmente demasiadas !…) abordar-se este assunto traz muita dôr junto : quanto mais falarem elas próprias sobre isso – é um acto de muito sofrimento .
Assim de nada vale falar por falar, o assunto merece muito rigor e seriedade: não somos mujimbeiros ( embora saiba que atrás de um mujimbo poderá haver pistas para a verdade…), pelo que um dos trabalhos da Associação 27Maio tem sido o da recolha de testemunhos de sobreviventes, familiares, amigos, vítimas daqueles trágicos acontecimentos, e sua inventariação para que a memória não se perca .
Esse trabalho é um sustentáculo básico para todos aqueles que, melhor que nós, estão apetrechados para o continuar – historiadores, investigadores sociais, organismos internacionais, bem como para uma entidade independente capacitada para concretizar o que preconizamos como nossos objectivos: a investigação, esclarecimento e divulgação dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola.
E, volto a repetir, ainda bem que te interessas, como revelas nas tuas perguntas pertinentes e conhecedoras do assunto. Espero que também contribuas com o teu testemunho, podendo envia-lo para os nossos endereços (e-mail ou apartado), ou mesmo , se o quiseres, em amena conversa .
Para terminar deixa que te diga : tão, ou mais, importante que os nomes dos torturadores, dos colegas, dos carrascos (julgo que saibas quem são…) , dizia, mais importante é o esclarecimento daqueles acontecimentos, a reposição da verdade, e a devolução aos familiares e amigos da memórias queridas dos que morreram, dos que sofreram, dos que sobreviveram .
É preciso lembrar para jamais esquecer !
Jorge Fernandes, membro da Associação 27Maio, sobrevivente
>Caros senhores José Reis e José Fuso. Provavelmente já conhecem o meu Site sobre a Descolonização de Angola: http://pissarro.home.sapo.pt/
Ainda ontem lá coloquei um artigo do vosso site sobre Pepetela com um comentário do Nando.
Tenho procurado na Internet a história completa sobre o 27 de Maio de 1977 mas o que encontro são fragmentos e não a história completa sobre o que se passou.
Quer queiram quer não o 27 de Maio faz parte da História de Angola e deveria ser contada na íntregra para que o Mundo Lusófono pudesse saber toda a verdade.
Já os enviei o mail nesse sentido para saber onde poderei encontrar isso ou quem terá a coragem de o fazer? No livro saído recentemente sobre a biografia de Agostinho Neto o 27 de Maio é praticamente passado por alto como uma revoltasita o que não corresponde à verdade segundo o que li no vosso site.
Com os meus melhores cumprimentos,
Rubellus Petrinus