27 de Maio – 44 Anos
11 de Novembro de 1975. Dia de Luz. Primeiro dia da Independência da República Popular de Angola.
27 de Maio de 1977. Dia sombrio. Primeiro dia de um dos períodos mais trágicos da história de Angola. Terror institucionalizado, rapto, tortura, assassinato de milhares de cidadãos.
Se, para todos nós, o 11 de Novembro é uma data a comemorar, para as famílias de 30 mil desaparecidos, o dia 27 de Maio é um dia de sofrimento, trauma e saudade. Saudades do filho, da filha, do esposo ou da esposa… Saudades do pai ou da mãe que muitos nunca conheceram… Saudades e dor, por vidas apagadas e suas memórias violadas ao longo de 44 anos.
Logo depois da independência, os nossos pais viram a cúpula do MPLA a deixar-se corromper por privilégios e regalias, a virar as costas ao povo angolano. Os nossos pais eram orgulhosamente do MPLA: uns tinham sido guerrilheiros, outros eram militantes urbanos experientes e dedicados. Ao denunciarem esses comportamentos, são denominados pela liderança do Movimento de “fraccionistas” sem que nunca se tenha provado esse alegado “fraccionismo”.
Passam a constituir um alvo a abater. Começa um período trágico de “caça às bruxas”, com prisões, insídia e maldade. A 27 de Maio de 1977, no rescaldo de manifestações populares conjugadas com actos de insurreição, desaparecem misteriosamente alguns comandantes militares. São posteriormente encontrados mortos. Até hoje nunca se investigou a autoria material e moral destes crimes.
Dispensando qualquer investigação prévia, Agostinho Neto, líder do MPLA e Presidente de Angola vem a público afirmar: “Não vamos perder muito tempo com julgamentos, nós vamos ditar uma sentença”. Entre 1977 e 1979, sob a acusação de fraccionismo, mais de 30 mil pessoas desaparecem, segundo a estimativa da Amnistia Internacional.
Continuam desaparecidas.
Passados 44 anos de silêncio, queremos exigir um país diferente. Um país que reconhece o empenho que estes jovens demonstraram para libertar e construir um país melhor. Uma juventude com direito à História e à Memória.
Porque foram presos e mortos estes milhares de cidadãos?
Porque não tiveram direito a um julgamento?
Onde e por quem foram executados?
Para que vala-comum foram atirados?
Porque nunca se investigou o assassinato dos comandantes militares?
Todos os países precisam de abrir e fechar ciclos de dor. Uma verdadeira reconciliação com a história do 27 de Maio significa saber toda a verdade sobre o que se passou (antes, durante e depois). Significa a busca da verdade, por mais dolorosa que possa ser. Significa iniciar o processo de devolução dos corpos às famílias.
Enquanto esta juventude não tiver direito a um funeral condigno e ao luto que ainda está por fazer, dificilmente Angola encontrará a paz que tanto necessita.
M27 – Associação Memória 27 Maio 77