Plataforma 27 de Maio reage à resposta do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos da República de Angola
COMUNICADO DA PLATAFORMA 27 DE MAIO
As 3 organizações integrantes da Plataforma 27 de Maio, expressam o seu repúdio perante a resposta do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos da República de Angola, datada de 7 de Março de 2024, face aos pedidos de informações e recomendações formulados a 15 de janeiro de 2024 pelos três Relatores Especiais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Nessa resposta, o Ministério da Justiça da República de Angola proferiu afirmações que não correspondem à verdade. Entre elas, destacam-se as seguintes:
- Que as três organizações da PLATAFORMA 27 DE MAIO eram membros da CIVICOP desde a sua primeira sessão.
Ao invés, estas foram apenas chamadas a conversas informais quando decorria já a sua décima reunião, sem nunca terem sido envolvidas nos trabalhos, nem consideradas como seus membros de jure, apesar de terem submetido propostas concretas de trabalho sem que tenham tido direito a qualquer sorte de resposta;
- Que o processo de localização, exumação e identificação dos restos mortais das vítimas é efetuado de acordo com as melhores práticas, por equipas de especialistas de laboratórios forenses que cumprem escrupulosamente os requisitos para garantir a conservação das provas e reúnem as condições técnicas e científicas para a realização de todas as perícias médico-legais.
No que se refere às perícias, a equipa forense Portuguesa, liderada pelo Professor Duarte Nuno Vieira, personalidade de renome internacional, deslocou-se a convite, à República de Angola, tendo concluído que, na sequência da recolha do ADN dos familiares das vítimas e pelo confronto desse ADN com os exames de ADN realizados pelo Instituto de Medicina Legal em Lisboa, as amostras das ossadas fornecidas em Luanda à equipa forense Portuguesa, atribuídas a conhecidas vítimas no processo do 27 de Maio, que a CIVICOP pretendia entregar aos familiares, não tinham qualquer correspondência com os desaparecidos, e que a República de Angola, não dispunha de meios técnicos e científicos indispensáveis à certificação de ADN em ossos. Essa comunicação foi feita em Lisboa, no dia 21 de Março 2023, a uma plateia de familiares das vítimas e às associações que integram a plataforma 27 de Maio.
Estas conclusões foram transmitidas ao Governo de Angola, o qual, ao invés de alterar os procedimentos, tem mantido e aprofundado a mesma linha de atuação até ao momento.
- Que a CIVICOP adotou, entre outros, o princípio da “verdade material”; da “historicidade” e os “princípios internacionais”, nomeadamente da “Política da União Africana sobre a Justiça Transicional”, tendo igualmente actuado de acordo com as normas internacionais relativas às “Comissões de Verdade”.
A Plataforma 27 de Maio insistiu, por diversas vezes, que o princípio da verdade material exige a abertura de uma investigação histórica sobre o que aconteceu no dia 27 de Maio e no período subsequente, designadamente sobre a responsabilidade dos diversos intervenientes nos acontecimentos de dois anos, o que implica um sério trabalho de investigação, com a abertura dos arquivos do Estado e testemunhos de pessoas que ainda estão em condições de contribuir para a Verdade Histórica. A CIVICOP recusou este pedido, com a alegação de que excedia o âmbito dos trabalhos e não contribuía para a almejada reconciliação. Tal se deveu apenas a não pretender responsabilizar os perpetradores dos crimes cometidos, deitando tudo para “debaixo do tapete”, e por considerar que os perpetradores também são vítimas do que chamou “conflitos políticos”.
- Que a Associação 27 de Maio continua a ser “membro ativo da CIVICOP”.
A Plataforma 27 de Maio, mesmo depois de abandonar qualquer participação na CIVICOP, o que o fez a 7 de março de 2021, considerou positivo o pedido de perdão em nome do Estado feito pelo Sr. Presidente da República a 26 de Maio de 2021, se bem que o não tenha pronunciado em nome do MPLA. Na sequência desse pedido de perdão, endereçou uma carta aberta ao Sr. Presidente a 21 de Agosto de 2021 solicitando a correcção do rumo da CIVICOP por não ter verificado qualquer alteração nos métodos seguidos.
A Plataforma 27 de Maio revê-se integralmente nas recomendações agora feitas à Republica de Angola, pelos Relatores Especiais do Alto Comissariado das Nações Unidas, e mostra-se indignada com as respostas que foram apresentadas pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, que são mais uma prova de que a CIVICOP continuará a escamotear o facto de que o processo 27 de Maio de 1977, não pode ser entendido como um “conflito político”. O processo do 27 de maio de 1977 tem que ser entendido como um processo de desaparecimentos forçados, seguidos de execuções sumárias e extrajudiciais, e deverá ter um tratamento no âmbito da promoção da verdade, justiça, reparação e garantias de não-recorrência. Deverá ainda ser garantida uma investigação histórica, a identificação dos responsáveis pelos crimes, a localização dos restos mortais dos desaparecidos e sua identificação, de acordo com as boas práticas forenses.
Associação M27
Associação 27 de Maio
Grupo de Sobreviventes 27 de Maio
Luanda, 15 de Maio de 2024
Plataforma 27 de Maio